Foi cedo à banca de jornais. Cantarolava. Cuidava para não pisar nos rejuntes das pedras. Sorte. Queria ler a crítica de seu mais novo romance. Mais um sucesso, pra variar. Desfolhou todo o jornal, estabanado. Sacos de batatas. Intitulava-se “Sacos de batatas” a resenha. Era acusado de jogar seus personagens de um lado a outro sem nenhum zelo ou piedade. Não leu o resto. Imaginava o deleite de seus parentes. De seus ex-colegas. De sua ex-mulher. Da sua mãe.
Entrou em casa batendo a porta. Chutou o gato. Berrou para a empregada:
̶ -Mande seu filho vir aqui buscar essa porcaria de computador. É presente. Que faça bom uso.
̶ -Muito obrigada! – Disse, feliz da vida. ̶ Mas não quero dado, não! O senhor vai comprar um daqueles fininhos, bem modernos? Acho lindo, ainda mais os pretinhos...
Ele cortou a tagarelice:
̶ - Não preciso mais disso. Nunca mais escrevo.
A empregada arregalou os olhos. Abriu a boca e engoliu o ar. Suspendeu a pergunta, temerosa.
̶ - E você, trate de dar um jeito de aprender a escrever direito porque nem lista do super eu faço mais. ̶ - Ordenou.
̶ - Falando nisso – murmurou a empregada olhando para o chão -̶ , não vou fazer aquele seu purê porque as batatas acabaram. O senhor poderia...
Ele não ouviu o final da frase. Trancou-se no quarto. Deitado, olhava para o teto. Contava as tábuas do forro. Não queria pensar. Viu as malas sobre o roupeiro. Fugir seria trabalhoso e inútil. Deitou-se de bruços. O barulho do filho da empregada levando o computador irritou-o. Tapou a cabeça com o travesseiro. Dormiu. Sonhou que estava amarrado numa sala escura. Trouxeram-lhe um fumegante suflê de batatas. Quando iam lhe obrigar a comer a primeira colherada:
̶ - Senhor, senhor. Tem um moço aí com um papel pro senhor assinar. ̶ Chamou a empregada.
Ele lembrou-se. Era dia e não escrevia mais. Do quarto, gritou:
-̶ Assine você.
A empregada insistiu. Ele retrucou. Silêncio. Ele ouviu um choro baixo. Ela balbuciou:
̶ - Mas eu não assino mais meu nome desde que me divorciei. Não consigo.
Ele abriu a porta:
̶ - A sacana da minha ex-mulher também me deixou e nem por isso...
Ele não tinha moral para terminar a frase. Ela não notou:
̶ - Mas o senhor não teve que voltar a usar o sobrenome do pai. Pai bêbado. ̶ Soluçava. ̶ Coisa de mulher largada, feia, preguiçosa. Não sou isso, juro.
Ouviram o portão bater. O carteiro fora embora. Ele olhava a pobre criatura naquele choro inédito. Ela tentava se explicar:
- A lista de super eu faço. Não tem problema. Só assinar meu nome não dá...
Ele teve vontade de abraçá-la. Pegaria mal. Quis perguntar o que houve com o pai. Isso abriria precedentes. Nunca percebera aquela mulher. A fragilidade escondida sob a aparente rudeza. Um saco de batatas. Como seria aquele marido que a abandonara? Que expectativas frustrara com o casamento? As perguntas rodavam em sua cabeça. Precisava de um computador novo. Pegou um casaco e avisou:
̶ - Vou sair e demorar. Ligue o alarme quando for embora.
Ela já não chorava. Lembrou, delicada:
- Não esquece das batatas, tá?
gamante *-* Luciane Raupp Verissimo de Sheldon deveria ser teu nome sora u.u' -qq
ResponderExcluir1º capítulo da web já foi postado :D'
ResponderExcluirpassa lá e confere ? (:
xoxo :*
AHUAHUAHUAHUA , o nome da amiga dela é Dulce porque é de Rbd , a maioria dos nomes são originais tirados de Rbd e dos pais deles u.u'
ResponderExcluirdeu não, até que foi fácil de faze ela :B'
Sora, sem dúvida brilhante! Já tinha lido ele na aula, mas voltei aqui pra achar o conto de novo!
ResponderExcluirNunca tinha me dado conta da personalidade profunda que cada personagem trás! Li duas vezes o conto, mas só agora que notei a relação da resenha com a vida do personagem.
De fato: "ao vencido, o ódio ou a compaixão; ao vencedor, as batatas!"