Simplesmente amei a ilustração que o Sinovaldo (Mário Junges) fez para o meu texto "Cordulino, o espantalho", que estará no fascículo III do Projeto Ler. Tem como não amar?
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
quarta-feira, 27 de agosto de 2014
Cordulino, o espantalho
Para a Alice, que ainda vai chegar...
Para a Rafaela, que está aí, já deixando o mundo bem melhor...
Para a Antônia, que eu quero tanto conhecer...
CORDULINO, O ESPANTALHO
Cordulino
era um espantalho. Foi feito de palha, chapéu e roupas velhas para espantar os
pássaros.
Mas
ele não fazia nada disso.
Acontece
que Cordulino era diferente. Ele tinha um coração.
E
um cérebro.
E
um grande amor pela terra e tudo que dela brota.
E
um trato com os pássaros.
Era
o seguinte: metade das sementes era para os humanos, metade para os pássaros.
Simples assim. Justo assim.
Mas
o dono da fazenda, Seu Valentim, não pensava desse modo:
-
De que me adianta um espantalho que não espanta?
E
resmungava sempre:
-
Cordulino? Bobolino. Trouxolino, isso sim.
Um
dia, seu Valentim tirou Cordulino da roça. Jogou o espantalho no galpão, junto
com um monte de traquitanas velhas.
No
escuro.
No
frio.
No
chão úmido.
Caído
ali, Cordulino lembrava do sol, das nuvens, da chuva. Tinha saudade do vento na
sua cara de palha, do cocô dos passarinhos na sua cabeça de chapéu.
Até
que um dia...
...
passinhos e risinhos finos iluminaram todo o galpão.
Eram
Alice e Rafaela, as filhas do Seu Valentim:
-
Olha o Cordulino! – exclamou Alice.
-
Coitadinho – penalizou-se Rafaela.
As
meninas resgataram-no do exílio. Inventaram rodas, rodopios, cantorias – toda a
sorte de tonturas e doideiras. Cordulino tinha arrepios de alegria em sua palha
embolorada.
Seu Valetim flagrou a festa e trovejou:
-
O que vocês querem com esse traste, meninas?
-
Ah, pai, dá o Cordulino pra nós – pedichou Alice.
-
A gente até sabe onde colocar – argumentou Rafaela.
O
pai, apressado, fez um gesto qualquer com a mão e saiu na sua lida de sempre.
A
mãe juntou-se as filhas. As três inventaram umas felicidades para Cordulino.
Agora,
ele enfeita um canteiro enorme de sempre-vivas. Sempre vivas como o coração de
Cordulino, acordado com o cheiro da terra, com os pássaros, com o sol, com as
canções das meninas, que brotam do tempo, no espaço do bem querer.
segunda-feira, 9 de junho de 2014
Barcos de papel
Shhhhhh...
Olha a chuva...
O menino corre à janela
Uma ideia colore o dia:
pega o bilhete de amor,
a carta de dor,
o boleto,
o boletim,
- folhas sem fim! -
uma a uma, dobra que dobra,
uma esquadra se forma.
Guarda-chuva em punho, galochas nos pés
Lá vai o menino,
lá se vai a armada,
lá se vai a papelada
desaguando, desmachando,
na tarde chuvosa,
tudo que não é rosa,
tudo que nubla o dia,
tudo que rouba a alegria,
na forma de barcos de papel.
sexta-feira, 9 de maio de 2014
Ilustração do texto "Turma 53" para o próximo fascículo do Projeto Ler
Ilustração do Sinovaldo para o meu texto "Turma 53", que estará no próximo fascículo do Ler. Mais uma vez, ele conseguiu ver no meu texto coisas das quais eu nem suspeitava. :)
Turma
53
Nós tínhamos 11 anos, todos os
sonhos do mundo e três gols atravessados na garganta. Todos eles de um certo
Paolo Rossi, o carrasco italiano que baleou a mais genial seleção brasileira de
todos os tempos.
Apesar dos tiros no peito, o
outro dia era de aula. E de lamentar-se na troca dos períodos:
— Como que isso foi acontecer? —
perguntava-se a Fabiane.
— A culpa foi daquela zaga podre,
daquele Valdir Peres que só fez besteira! — berrou o João lá do fundo da sala.
— Claro que a culpa é do técnico,
meu vô que disse — argumentou a Graceline.
E a Dona Vera, professora de
Português, que adentrava a sala, entrou na discussão, pensando encerrá-la:
— A culpa é que a seleção é de
homens. No Brasil, eles não fazem nada que preste. Só falta a nós, mulheres,
termos que vestir a camiseta amarela também. E tenho dito. Agora, silêncio,
turma 53, que futebol não dá futuro para ninguém.
Quando Dona Vera se virou para
apagar o quadro, as meninas fizeram bananas e outros gestos menos cordiais para
os meninos. A troca fuzilante de olhares disse que o caso não acabava ali.
E não ficou por isso mesmo. No recreio,
o Paulo, o Pedro e o João foram até o grupinho das gurias, coisa que era
terminantemente proibida. O João encarou a Tati, a líder das meninas, jogando
sua franja argentina para o lado:
— Se as mulheres da 53 são tão, tão
assim, nós desafiamos vocês para uma partidinha de futebol.
— E damos até um mês de lambuja para
vocês treinarem — disse, irônico, o Pedro.
A Tati não baixou o queixo:
— Pois está marcado. Daqui a um mês.
Preparem-se para morrer.
Quando o trio masculino virou as
costas, as gurias soltaram a polvorosa: como que a Tati não desconversou? Que
fiasco seria aquele, Santo Deus! Todo mundo sabia que os guris da 53 eram os
melhores jogadores da escola. A Tati, numa calma fingida, já tinha um plano,
que a seguissem.
Foram todas para à porta da sala dos
professores. Pediu para falar com a Dona Vera e com a Dona Zuleika, a
professora de Educação Física. Explicou toda a situação. Dona Vera, então,
comprou a briga e convenceu Dona Zuleika a treinar, secretamente, depois das
aulas as meninas.
Foi um mês de treinos intensos.
Claro que os guris ficaram sabendo. Acharam tão engraçado que até resolveram
suspender as peladas até o grande dia, que, enfim, chegou.
O duelo seria na aula de Educação
Física. Trinta minutos, quinze para cada lado. As turmas 52 e 54 foram
liberadas para assistir ao duelo. O avô da Roberta, a experiente goleira – de
handebol, diga-se -, e o pai da Lu, a
zagueira, juntaram-se à Dona Zuleika. Eram a comissão técnica. “Mais vale não
levar do que fazer”, lembraram os integrantes da comissão às jogadoras.
E foi o que elas fizeram.
Ninguém passava pela Lu, que
tomava cuidado para que ninguém cavasse um pênalti. A Tati e a Fabi mostravam
toda a agilidade nas roubadas e nas retomadas. A genialidade do Paulo, no
entanto, custava a aparecer, soterrada sob grossas camadas de salgadinhos,
refri e bolachas que consumiu no tempo-de-não-treino. A câimbra nas pernas do
João doía menos que sua consciência pesada por ter subestimado as gurias e por
todas as porcarias que comeu naquele fatídico mês.
Acabados os 15 minutos, nada de
gol. A 52 e a 54 vaiaram a pelada braba.
Nos 14 minutos do segundo tempo,
em uma distração fatal do João, a Fabi roubou a bola no contra-ataque, tabelou
com o zagueiro e.... gooooooooool!
Abraços, risadas, cumprimentos
gerais. Os guris cumprimentaram, orgulhosos, as suas colegas. Foi hora das
gurias da 53 mostrarem seu valor.
terça-feira, 22 de abril de 2014
Memórias de uma Copa
Turma 53
Nós tínhamos 11 anos, todos os sonhos do
mundo e três gols atravessados na garganta. Todos eles de um certo Paolo Rossi,
o carrasco italiano que baleou a mais genial seleção brasileira de todos os
tempos.
Apesar dos tiros no peito, o outro dia era
de aula. E de lamentar-se na troca dos períodos:
— Como que isso foi acontecer? —
perguntava-se a Fabiane.
— A culpa foi daquela zaga podre, daquele
Valdir Peres que só fez besteira! — berrou o João lá do fundo da sala.
— Claro que a culpa é do técnico,
meu vô que disse — argumentou a Graceline.
E a Dona Vera, professora de
Português, que adentrava a sala, entrou na discussão, pensando encerrá-la:
— A culpa é que a seleção é de
homens. No Brasil, eles não fazem nada que preste. Só falta a nós, mulheres,
termos que vestir a camiseta amarela também. E tenho dito. Agora, silêncio,
turma 53, que futebol não dá futuro para ninguém.
Quando Dona Vera se virou para
apagar o quadro, as meninas fizeram bananas e outros gestos menos cordiais para
os meninos. A troca fuzilante de olhares disse que o caso não acabava ali.
E não ficou por isso mesmo. No
recreio, o Paulo, o Pedro e o João foram até o grupinho das gurias, coisa que
era terminantemente proibida. O João encarou a Tati, a líder das meninas,
jogando sua franja argentina para o lado:
— Se as mulheres da 53 são tão, tão
assim, nós desafiamos vocês para uma partidinha de futebol.
— E damos até um mês de lambuja para
vocês treinarem — disse, irônico, o Pedro.
A Tati não baixou o queixo:
— Pois está marcado. Daqui a um mês.
Preparem-se para morrer.
Quando o trio masculino virou as
costas, as gurias soltaram a polvorosa: como que a Tati não desconversou? Que
fiasco seria aquele, Santo Deus! Todo mundo sabia que os guris da 53 eram os
melhores jogadores da escola. A Tati, numa calma fingida, já tinha um plano,
que a seguissem.
Foram todas para à porta da sala dos
professores. Pediu para falar com a Dona Vera e com a Dona Zuleika, a
professora de Educação Física. Explicou toda a situação. Dona Vera, então,
comprou a briga e convenceu Dona Zuleika a treinar, secretamente, depois das
aulas as meninas.
Foi um mês de treinos intensos.
Claro que os guris ficaram sabendo. Acharam tão engraçado que até resolveram
suspender as peladas até o grande dia, que, enfim, chegou.
O duelo seria na aula de Educação
Física. Trinta minutos, quinze para cada lado. As turmas 52 e 54 foram
liberadas para assistir ao duelo. O avô da Roberta, a experiente goleira – de
handebol, diga-se -, e o pai da Lu, a
zagueira, juntaram-se à Dona Zuleika. Eram a comissão técnica. “Mais vale não
levar do que fazer”, lembraram os integrantes da comissão às jogadoras.
E foi o que elas fizeram.
Ninguém passava pela Lu, que tomava
cuidado para que ninguém cavasse um pênalti. A Tati e a Fabi mostravam toda a
agilidade nas roubadas e nas retomadas. A genialidade do Paulo, no entanto,
custava a aparecer, soterrada sob grossas camadas de salgadinhos, refri e
bolachas que consumiu no tempo-de-não-treino. A câimbra nas pernas do João
doíam menos que sua consciência pesada por ter subestimado as gurias e por
todas as porcarias que comeu naquele fatídico mês.
Acabados os 15 minutos, nada de gol. A 52
e a 54 vaiaram a pelada braba.
Nos 14 minutos do segundo tempo, em uma
distração fatal do João, a Fabi roubou a bola no contra-ataque, tabelou com o
zagueiro e.... gooooooooool!
Abraços, risadas, cumprimentos gerais. Os
guris cumprimentaram, orgulhosos, as suas colegas. Foi hora das gurias da 53
mostrarem seu valor.
quarta-feira, 26 de março de 2014
João Pedro
E não é que a Profe do JP conseguiu até me desenferrujar na escrita? Professora competente, criativa, que ama o que faz é uma bênção para a família inteira. Era "tema" da reunião de pais escrever um poema rimado apresentando seus filhos. Eis que saiu o seguinte:
Este é o João Pedro
Dorme e acorda cedo
De filme de terror não tem medo
E rói a unha até o dedo.
Para o nosso amado João,
Todos cabem no seu coração.
É um grande colorado,
Amado,
Educado,
Engraçado.
Ele pensa para fora das caixinhas,
Detesta coisas muito certinhas.
Adora sua cachorra Raya,
Não fica mais grudado na barra da saia,
No teatro nunca vai levar vaia:
Encenar é a sua praia.
É um guri persistente,
Sorridente,
Contente,
Inteligente:
Encanta a toda gente.
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