quarta-feira, 3 de março de 2010

Perseguição

Ela deixou a pasta com as fotos e os documentos sobre a cama - arremate perfeito para seu plano. Bateu com força a porta do quarto do hotel. Sequer cuidou para não tropeçar ou escorregar nos degraus desgastados. Na calçada, cruzou com um senhor de terno escuro. Ele andava a passos rápidos. Dois rapazes tentavam acompanhá-lo. Ela ajeitou o lenço na cabeça. Relaxou os ombros. A polícia faria o previsto. Ajeitou as alças da bolsa pesada, apalpou-a e prosseguiu. Se os seus aliados não cumprissem o trato, as joias dar-lhe-iam o futuro.




Precisaria andar mais quatro quadras até chegar ao local combinado. Levariam, segura, de volta ao Brasil. Dar-lhe-iam documentos novos. Viaturas da polícia, ambulância, carro de bombeiros passaram por ela. O barulho infernal das sirenes não a afetou. Embalava-se nos seus novos planos. De longe, avistou uma confusão. Fumaça, pessoas em volta, policiais tentando isolar o local. As pernas tremeram com a hipótese que lhe veio à mente. E se fosse com eles? Apressou o passo. Duas vans da imprensa local passaram voando. Era coisa grande.


Andava na contramão. As pessoas batiam nela sem pedir desculpas. A bolsa pesada e o salto alto atrasavam-lhe o ritmo. A respiração, ofegante, dificultada pelo cheiro de gasolina e de fumaça. Um passante derrubou-a para dentro de um bar. Caiu de joelhos à porta. O garçom ajudou-a. Aconselhou-a a mudar de direção, pois logo em frente houvera um atentado. Dizem que foram os neonazistas. Ela não vira? Explodiram um carro. Ela disfarçou seu pânico, pedindo uma água. Alguém colocou a mão em seu ombro. Não reconheceu o homem que pegou o seu braço e pediu que o acompanhasse.


Caminharam em silêncio alguns instantes. Ele disse que não temesse. Estava tudo bem. Ela segurava firme a sua bolsa. Longe da confusão, um carro os aguardava. Reconheceu o motorista. Aliviou-se. Entraram no carro. O motorista falou:


 - Conhece a expressão “boi de piranha”?- riu-se. - Foi o que fizemos.


Os dois homens riam. Ela entendeu a estratégia. Pegaram o carro errado.


- Por isso perderam a Guerra. - Divertia-se o outro - Fizeram, literalmente, uma cortina de fumaça para ti.


Partiram. Ela encostou a cabeça no banco do carro. Os joelhos doíam. As pernas continuavam bambas. Alcançaram-lhe uma pasta com seus novos documentos. Renata Grimbald. Riu com a brincadeira do nome. O motorista falou:


- Amanhã teu nome aparecerá como vítima em todos os jornais. A Norma já era...


Queria perguntar de onde tiraram o corpo que ficara em seu lugar. Um carro cortando-lhes a frente suspendeu a pergunta. Outro carro os perseguia. Pegaram a rodovia em alta velocidade. Perseguição. Tiros. Andavam em zigue-zague. Os perseguidores encostavam. Em frente, uma barreira policial.


Pararam. Seus perseguidores furaram a barreira. Duas viaturas foram atrás. Um dos policiais falou com o motorista:


- Estão a salvo agora, chefe. Foi por um triz.


O policial deu duas batidas de leve na lataria. Prosseguiram. Ela tinha o susto nos olhos. Não imaginava a dimensão da encrenca em que se metera. Só queria se dar bem...


Mais adiante, os policiais tiravam os perseguidores do carro capotado. O sangue cobria parte da careca de um deles. Pararam. Ela ficou no carro. Um dos perseguidores escapou e foi ao encontro dela. Com o rosto transfigurado de ódio, bateu no vidro, gritando:


- Nós vamos te pegar nem que seja no inferno!

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