sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Discurso de formatura - Letras/Faccat - 10/12/10

Queridas afilhadas.



É com muita emoção que lhes dirijo, como grupo reunido, as últimas palavras. Agora já formadas, teria tanto ainda para lhes dizer, mas, como convém ao momento, propus-me a aplicar a máxima conversacional do filósofo da linguagem Grice, de apenas “dizer o que for necessário e não mais do que isso.”

O que considero estritamente necessário dizer neste momento? Primeiramente, que dez de dezembro de 2010 não é apenas uma data com um interessante jogo sonoro. Trata-se de um marco, que ficará guardado no rol das mais caras recordações não só das nossas queridas formandas da quarta turma de Letras das Faculdades Integradas de Taquara como também de seus familiares e de seus professores. Com o tempo, talvez a data exata seja esquecida, porém a marca indelével nos corações será a das amizades e das emoções vivenciadas nesses anos todos nesta casa. E digo “casa” pois foi justamente nisso que vocês, queridas afilhadas, transformaram a Faccat: em um segundo lar, com todas as implicações semânticas do termo. Com metas em comum, vocês foram criando laços, compartilharam alegrias e tristezas, vitórias, decepções, opiniões. Nesse clima, os sábados transformavam-se em momentos de muitas celebrações: o culto ao saber, às amizades, à vida, enfim. Indubitavelmente, essa lição de humanidade e de solidariedade é um dos grandes diferenciais que vocês levarão consigo para suas vidas profissionais e que saberão, magistralmente, transversalizá-la nas suas práticas docentes.

Entretanto, há que se destacar que não só de lições paralelas, que falam não tanto à razão, mas ao coração e à sensibilidade, foram feitas as suas trajetórias nesta faculdade. Para o orgulho de seus familiares e de seus professores, vocês brilharam no mundo acadêmico. Senhores pais, maridos, namorados, filhos e netos: será difícil alguma turma repetir o feito dessas 19 formandas, as quais eu tive o privilégio de acompanhar mais de perto neste último ano: os excelentes resultados obtidos nos trabalhos de conclusão de curso, com um número muito expressivo de aprovações com distinção. Isso foi fruto de muita dedicação, empenho e, sobretudo, de competência. Cada uma, a seu modo, destacou-se, seja pela liderança, pela capacidade de expressão ou pelos exemplos de dedicação e persistência. Apesar das diferenças, todas essas personagens protagonizaram a crônica diária que vivenciamos, cujo tempo psicológico, por vezes, voou e, por outras, arrastou-se. Mas o melhor de tudo foi o decorrer do curso, quando a aprendizagem se concretizou. Portanto, há que se concordar com o que disse Riobaldo, personagem de “Grande sertão: veredas”, de Guimarães Rosa: “Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”.

Parece que o tempo passou rápido, que foi ontem que vocês, queridas afilhadas, iniciaram o curso, na disciplina de Teoria Literária I. Como diz a Boneca Emília, em suas memórias, “a vida é um pisca-pisca. Pisca e mama, pisca e anda, pisca e ama, pisca e cria filhos, pisca e geme os reumatismos”. Então, todos nós piscamos, e hoje vocês estão se formando. Para algumas famílias, este momento representa a concretização de um sonho: ver a filha formada. Algumas das formandas, inclusive, são as primeiras da família a completar a graduação, o que torna ainda mais especial este momento.

A esta altura, de acordo com o que se convencionou para o gênero textual discurso, deveria dizer algumas palavras a fim de conclamá-las ao cumprimento dos deveres inerentes à profissão. Entretanto, julgo redundantes tais palavras, uma vez que isso já foi feito à exaustão durante o curso, e as práticas de ensino demonstraram que vocês já incorporaram essa postura no exercício docente. Por isso, direi apenas o seguinte: queridas afilhadas, continuem empregando seus conhecimentos da melhor maneira possível, livremente, corretamente, em favor do próximo, em benefício da coletividade, em proveito do povo e da nação a que pertencemos.

Por último, gostaria que, neste momento, ressignificassem um conhecido poema de Fernando Pessoa, que pode ser entendido como um código não só para a realização profissional como também pessoal, que diz:

Para ser grande, sê inteiro: nada

Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és

No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda

Brilha, porque alta vive.



Espero que o brilho desta noite seja o prenúncio do seu sucesso, porque, se ele depende só de vocês, não há dúvidas de que chegará em uma magnitude muito maior do que a que presenciamos na noite de hoje. Brilhem muito! Em grandes constelações! Não necessariamente nas já descobertas, mas naquelas intrínsecas a cada uma de vocês!

Parabéns!

Muito obrigada!

Nenhum comentário:

Postar um comentário