terça-feira, 1 de junho de 2010

Nem aos domingos

Nem aos domingos




Sem querer, Ana bateu a portão de casa. Apressada, não encontrava a chave do carro na bolsa. “Nem em domingo...”, mas não conseguiu completar o pensamento. Do outro lado da rua, vinha um tipo suspeito. Deu dois passos para trás. O moço entrou na outra rua. Alívio. Achou a chave, entrou no carro, arrancou.

Quando chegou à avenida principal, lembrou do mapa. Ficou em casa. Onde era a festa mesmo? Ligou para a mãe do aniversariante. Caixa postal. Estacionou, raspando a roda no cordão da calçada. Pensou nas piadinhas do marido. Consertaria antes que ele percebesse. Telefonou para outra convidada. Ninguém atendeu. Sabia o bairro, meia dúzia de ruas, na certa acharia. Impossível não achar uma casa de festas de criança em um bairro. Prosseguiu. Não havia tempo de voltar.

Viu, mais adiante, alguns carros estacionados. Só poderia ser ali. Os balões são cor-de-rosa, que mal tem? A mãe do aniversariante tem a mente aberta. Rosa é lindo, chique. Não viu o carro da mãe. Pode ter vindo com o pai. Que carro mesmo que ele tem? Só pode ser aqui. O manobrista indicava o estacionamento: um terreno coberto por britas. Colocou o carro no cantinho que sobrara. Não dava para abrir a porta do motorista. Saiu pelo lado do carona. Ao passar de um banco para outro, seu colar engatou em uma alavanca. Mil pérolas tilintaram sobre o console. Não fazia mal. Ela nem gostava tanto assim do colar. Ao descer do carro, os saltos dos sapatos afundaram sob as britas. Por sorte, só um arranhãozinho no salto. Nada que uma boa graxa não resolvesse.

Chegou à festa. Sem óculos, não conseguiu localizar ninguém conhecido. Disse seu nome à recepcionista, que o escreveu sobre o pacote do presente. Crianças corriam embaladas pela estridente música infantil. Achou engraçadinho o pula-pula. Estaqueou. Um fedelho passou correndo e bateu em uma árvore de balões. O totem marrom e verde caiu sob a cabeça de Ana. A recepcionista veio em seu socorro. Sorriram amarelo. Um senhor encarou-a, franzindo a testa. Ela nunca o vira. Deu mais dois passos. O garçom lhe serviu um pratinho de doces. Olhou em volta. Ninguém conhecido. Deu quatro passos para trás. Perguntou à recepcionista:

- Será que tu podes me levar até a Márcia?

A recepcionista abriu seu sorriso de trabalho:

- Desculpe, senhora, mas quem é Márcia?

Um calor subiu ao rosto de Ana:

- A mãe do aniversariante, não sabe?

- Se não me engano, pelo que me disseram, ela se chama Patrícia. E é a aniversariante, olha ali, na placa.

Bem-vindos ao mundo encantado da Princesa Letícia. - dizia o colorido e imenso banner.

- Bem-vinda ao mundo encantado das trapalhadas de Ana. – disse à recepcionista, colocando o pratinho de doces sob o balcão.
Queria ser criança para poder sair correndo. Mal agradeceu ao manobrista e saiu pisando fundo. Será que havia alguém conhecido naquela festa? Meu Deus, por favor, que ninguém conhecido me tenha visto ali. Deu uma volta na quadra e, ao longe, viu uma placa com o nome de uma casa de festas infantis. Claro, era lá. Lembrou do nome. Viu o carro da mãe do aniversariante e os de duas outras amigas estacionados em frente ao local. Nem tudo estava perdido.

Entrou, deu o nome à recepcionista. A mãe do aniversariante a esperava na porta.

- Estávamos só esperando pela Tia Ana e pelo priminho Guilherme para cantar os parabéns. O João está ansioso, faz questão de que o teu filho esteja ao lado para ajudar a apagar as velinhas.

Priminho Guilherme?

Ana esquecera o filho em casa.

4 comentários:

  1. Essa história a gente conhece muito bem!!!
    A festa estava linda, parabéns, mamãe!
    com carinho,
    Juh

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  2. me diverti com o texto.
    Muito gostoso lê-lo.
    Parabéns mais uma vez, quem será essa Ana??!
    HEHEHEHE...

    Beijos

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  3. Ai, ai, ai, que dor de barriga de tanto rir!! Adorei, Luh!

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  4. Oi!
    Muito legal o seu blog! Gostei muito ! Parabéns!
    to seguindo lá, abraços

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