VITÓRIA
Aula de Educação Física era assim: sempre chegava a hora dolorosa. Não, não era a dos abdominais, que isso Vitória até aguentava. A dor era de outro tipo: ser a última escolhida na divisão dos times de vôlei. Eram 19 meninas, juntando as sétimas A e B. Assim, dava três times e sobrava uma pessoa.
– Olha, Vitória, não leva a mal – um dia disse Diana. – Tu és um amor, mas vôlei é vôlei.
“E Matemática é Matemática, Gramática é Gramática”, pensou Vitória. “Ai de quem me pedir explicações extras ou cola nas provas de novo! Juro que não dou mais!”. Mas Vitória tinha um coração enorme. E continuava a ajudar todo mundo em todas as matérias. Aí se achava importante.
Um dia, Dona Lakshmi, a professora de Educação Física, demorou para chegar à quadra. As meninas – exceto Vitória, claro – esperavam impacientes. Chegou trazendo consigo a bibliotecária, Dona Gênizah. Ambas estampavam sorrisos de quem estava aprontando alguma, vai saber... Alguém entendia as professoras? Dona Lakshimi mandou que todas fizessem o aquecimento, menos Vitória. As professoras olharam para a menina e, em seguida, entreolharam-se, sorrindo cumplicidades. Dona Lakshmi falou:
– Vitória, querida, preciso da tua ajuda. Como os jogos olímpicos se aproximam, precisamos montar um mural com o histórico desses jogos, curiosidades, enfim... A Dona Gênizah disse que tu és boa nisso e vai te orientar. Neste mês, nas minhas aulas, a tua tarefa é essa, pode ser? Confio em ti.
Vitória só abanou positivamente a cabeça, riscando o chão com o pé. Por dentro, enxergava-se beijando Dona Lakshmi, abraçando Dona Gênizah, pulando mais alto que as bloqueadoras do vôlei. Poderia ser? Mas claro que poderia ser. A Dona Lakshmi nunca teve tampouco teria de novo um mural tão... tão... Vitória não sabia o adjetivo, só sabia que seria no superlativo absoluto sintético erudito.
Vitória flutuou até a biblioteca. Quando se acomodava no seu lugar cativo, Dona Gênizah levou Vitória até o fundo da sala. Mexeu um livro grande, pesado que, surpresa, a garota jamais havia visto. Um alçapão se abriu no teto e, de lá de cima, alguém jogou uma escada de cordas. Vitória admirou-se da agilidade de Dona Gênizah em subir a estranha escada. Envergonhada, engoliu o medo de alturas e foi atrás. Qualquer coisa era menos assustadora do que jogo de vôlei.
Quando os olhos se acostumaram com a forte luminosidade, branca, pálida, viu um imenso salão cujo piso era todo coberto com livros e papéis soltos. Rabiscos e anotações mesclavam-se a páginas impressas. Vestidas de longas túnicas brancas, cinco meninas aproximaram-se. Dona Gênizah fez as apresentações:
– Meninas, essa é a Vitória, da turma 7B, como eu já havia falado a vocês. Aqui, ela se chamará Athena. Ninguém se chama aqui pelo nome de registro, isso é regra explícita. E também sabemos que tu guardarás sigilo. Do contrário, passarias por maluca. Athena, essas são Minerva, da 6B, Tara, da 8C, Tarini, da 21A, Mahakala, da 22B, e Saravasti, da 23C.
Todas inclinaram suas cabeças e flexionaram seus joelhos, em uma saudação de boas-vindas. Dona Gênizah bateu no ombro esquerdo de Vitória-Athena, e o uniforme transformou-se em uma diáfana túnica branca. A menina assustou-se:
– Trocar de roupa para um só período, Dona Gênizah? Já, já vai bater para a outra aula...
As outras meninas sorriram, doces e delicadas. Mahakala, serena, explicou:
– Aqui, no Grande Sótão, o tempo passa diferente, Athena..
Dona Gênizah explicou:
– A missão inicial de Athena é o nosso décimo primeiro trabalho. Do sucesso dele depende também o cumprimento do décimo segundo. Então, estaremos livres.
Todas se puseram a vasculhar aqueles papéis antigos. As palavras e as ideias dançavam no ar em um gracioso balé de rara agilidade e força. Era preciso também ter a mente ágil e forte para capturá-las. Em pouco tempo, desenhos, gráficos, histórias e mais histórias estavam à disposição dos olhos e dos ouvidos humanos.
O mural solicitado por Dona Lakshmi converteu-se em uma grande exposição. Para entrar, o público precisava passar por um grande túnel branco, todo decorado com desenhos alusivos aos jogos antigos. Lá dentro, a leitura dos textos preparados pelas seis meninas provoca um efeito estranho sobre as pessoas. Todos saíam da exposição inebriados e inexplicavelmente em paz. Os que que entrassem, claro. Porque nem todos quiseram entrar “na exposiçãozinha boba que aquelas ‘nerds’ que não sabem nem segurar uma bola inventaram só para matar as aulas de Educação Física”. Era o caso de Klara e Karin, as duas melhores jogadoras de vôlei da escola. Paradas na porta, desafiaram Vitória:
– E daí, bobinha, sabia que quando toda essa palhaçada terminar tu vai ter que voltar pras aulas de Educação Física? Daí tu tá roubada, porque meus saques po-de-ro-sos podem ir parar nessa tua linda cabecinha tan-tan, tá ligada? – disse Klara.
Enquanto isso, Karin puxava Klara pela blusa, dizendo “Vamos, vamos”. Klara, disse:
– Claro que vamos sair desse circo, mas não antes sem fazer isso...
“Isso” significava arremessar um lindo vaso grego da avó de Vitória que enfeitava a entrada. Ela, vendo que o vaso se espatifaria contra a parede, jogou-se e conseguiu apará-lo. O professor de Educação Física do terceiro ano, que assistia a tudo, exclamou:
– Que defesa! Que defesa! Tu precisas treinar no nosso time de Handebol! Serias uma goleira e tanto!
Dona Gênizah e Dona Lakshimi, aparecendo do nada, chamaram todas as meninas do Grande Sótão e declararam:
– Cumpriu-se a décima segunda tarefa! Agora somos livres para estudarmos o que quisermos.
Hehe muito legal! Os nomes não foram escolhidos aleatoriamente né? Afinal as garotinhas ali, que até poderiam ser muito ruins em alguma coisa eram por outro lado quase "deusas" no que sabiam fazer. Ou heroínas hercúleas aauhsuahsuauhsua. Adorei a mensagem que traz esse pequeno conto e acredito que todos nós possuímos nossos "momentos de divindade", basta esperar a ocasião certa! Beijos sora Lu
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