Uma avó sinistra
João Pedrinho não queria, mas não teve jeito. Precisava passar aquela noite na casa da Vovó. Ela morava sozinha em uma casa enorme, antiga, rodeada de árvores. E pediu tanto que ele passasse uma noite lá. Afinal, ele já era um homenzinho de cinco anos!
A mãe arrumou sua mochila: escova de dentes, pijama, roupa para o outro dia e...
- Que é isso, mãe, um urso? Coisa de guria! Não levo, não mesmo...
- Mas foi sua avó que deu, filho... Não custa fazer um agrado...
O menino, contrariado, fez tudo como pediram. Afinal, “o Natal está perto”. “Quem sabe o Papai Noel está vendo como estou comportado...”
Quando chegou à casa da avó, havia nuvens escuras de temporal no céu. Tudo era assustador. Não falou nada para não parecer mariquinhas.
A avó era bem esquisita, com aqueles cabelos brancos e compridos, aquele vestido preto, aquele nariz grande e torto com verruga peluda do lado. Sentou-se no sofá, com o gato Salém no colo e com o cachorro labrador Blaire deitado aos seus pés. Ela foi tão querida com o guri que ele admitiu: até que era uma avó normal. Também foi normal o resto da noite. Mas na hora de dormir...
- João Pedrinho, arrumei um quarto lindo, que vai sempre ser só teu lá no sótão. Não é divertido?
- Só... só... tão? Es...es...tá...tá bem! Glup!
O guri pegou sua mochila e, quando colocou o pé no primeiro degrau da escada que levava até ao sótão, ela gemeu um barulho sinistro. Todos os degraus rangeram. A porta do quarto também rangeu.
- Não é, como vocês dizem hoje em dia, “sinistro” teu quartinho, filhinho? - perguntou a avó, achando que fez grande coisa.
- É beeeem sinistro! – falou, com sinceridade, o menino.
A avó resolveu:
- Já que tu não estás com muito sono, vou cantar umas velhas canções de ninar pra ti.
“Ai, meu Deus, era só o que me faltava! Agora acha que sou bebê.” – pensou o guri.
- Nana, neném, que a Cuca vem pegar – cantava a voz tenebrosa.
“Ai, meu Deus, e se a Cuca vem mesmo?” – pensou João Pedrinho.
- Papai foi na roça, mamãe foi visitar – continuava a voz desafinada.
“Tô mesmo sozinho nessa!” – apavorou-se o guri.
- Que bicho é aquele que está em cima do detalhado, que não deixa meu netinho dormir sossegado? – Concluiu a terrível canção.
O menino ouviu uns estalos esquisitos vindo do detalhado. Fechou os olhos de tanto medo.
A avó, pensando que o neto dormira, saiu bem devagarinho. Deixou o abajur acesso para o caso de ele ficar com medo.
João Pedro ouviu passos. Abriu os olhos. A avó desaparecera. As sombras de um dragão com garras imensas projetavam-se na parede. Fechou os olhos para não ver aquilo. De repente, sentiu um clarão nos olhos. Em seguida, ouviu um estrondo de um trovão e o som de pingos grossos de chuva. O barulho no telhado aumentara, como se grandes garras roçassem, quem sabe tirando as telhas.
Ouviu uma respiração ofegante debaixo de sua cama. Seria o Bicho-Papão? Mas e quem estava no telhado? O velho do saco? Nem adiantaria gritar pela avó, que ela era surda... Ou seria uma bruxa amiga da Cuca, da mula-sem-cabeça e do monstro do armário?
Se pusesse o pé no chão para correr, o Bicho-Papão o pegaria pelo tornozelo... “Por que a mamãe me trouxe aqui? Valha-me, Nossa Senhora dos Medrosos!” - pensou ele
De repente, ouviu a velha escada ranger. “Vixe, agora é a Cuca. Sei que é ela. Ai, ai, ai...” – pensou o menino, paralisado de medo. Nem abria os olhos. Nem se mexia. Só ouvia. E os passos vieram, vieram.. E pararam. Segundos de medo. De repente, sentiu que algo saiu de debaixo de sua cama. Uma mão peluda estava sob seu rosto. Ele pulou e gritou:
- Não me devorem, seus monstros, que eu ainda sou pequenininho...
Abriu os olhos e viu sua avó com o ursinho na mão e o labrador ao seu lado.
- Eu só trouxe o teu urso e queria tirar o Blaire daí de baixo. – disse a avó, com pena do guri.
João Pedro terminou a noite dormindo com a vovó. Abraçado no Blaire, por via das dúvidas.
Oi Luh...
ResponderExcluirGostei muito da vó sinistra.
Você é muito talentosa.
Bjs da virgínia
Profe Lu,
ResponderExcluirEssa versão está mais detalhada, visualizamos melhor os personagens. Mas gosto muito de textos rimados, pois ficam engraçados! (sem querer rimei!).
Beijos Jú