OS GOLPES
O velho, guaiaca forrada, na flor da melhor idade, resolveu assumir o filho bastardo, fruto de uma paixão entre os pés de milho da fazenda. Mandou buscar o rapaz. Moço alto, taludo, cuja robustez muito orgulhava o pai – “olha só o que eu fiz” -, pensava ele, estufando o peito de orgulho. Criado na roça, no meio do nada, o que sobrava de atributos físicos ao rapaz, faltava-lhe em traquejo, em esperteza. Temendo que algum malandro ou alguma sirigaita se aproveitasse da ingenuidade do filho, o pai resolveu ter uma conversa de pé-de-orelha com o rapaz:
- Olha, filho, sei que tu és um bagualão, mas as coisas aqui em Porto Alegre são diferentes lá da fazenda...
O filho nem piscava. O velho continuou:
- Agora, tu tens pai rico, carteira forrada... Tens que te cuidar para não caíres no bico doce de qualquer sirigaita. Já ouviste falar no golpe do baú?
- Não ouvi, não, senhor. – Respondeu o moço, grudando os olhos no tapete.
A situação era pior do que o velho imaginava. Temeroso da resposta, continuou:
- E do golpe da barriga, sabes do que se trata?
O rapaz avermelhou. Apenas balançou a cabeça, quase a enfiando entre os joelhos.
O pai sentiu a pressão subir. Era só o que lhe faltava: sua fortuna, a tanto suor construída, ir parar nas mãos de uma aventureirazinha qualquer. Como iria entrar nesses assuntos com um bagualão desses? Não tinham intimidade para tanto. Resolveu mudar o rumo das perguntas:
- E só falta tu me dizeres que não conheces o golpe do bilhete premiado, da mala, do final de semana grátis na serra ou na praia...
O moço só fazia que não com a cabeça. O velho, impaciente, ralhou com o rapaz:
- E o que tu entendes de golpes, então, criatura? Tu cairias em qualquer um?
Envergonhado, o rapaz respondeu:
- O único que até a gente conhece lá nas grotas é o golpe do leilão do craque... Parece que a mesma pessoa já conseguiu aplicar duas vezes num pessoal muito inteligente lá na tal de Azenha ...